
“Cassian Andor estava morto para começar.” A frase que abre a entrevista de Tony Gilroy à Empire UK, publicada em junho de 2025, já revela o tom ousado, afiado e direto com que o criador de Andor encara o universo de Star Wars. Para um roteirista que chegou como um nome de fora, convocado às pressas para “salvar” Rogue One em 2016, Tony Gilroy não apenas sobreviveu à galáxia muito, muito distante. Ele a moldou à sua imagem: madura, política, existencial. Ao lado de Diego Luna, que retorna para encerrar a jornada de Cassian Andor na segunda e última temporada da série, Gilroy encerra um ciclo de mais de dez anos dentro da franquia com a mesma intensidade com que o iniciou: sem concessões.
Nesta matéria exclusiva para o Portal TdW, revisitamos os principais pontos da entrevista, analisamos os bastidores criativos de Andor, exploramos o impacto da série no panteão da saga e discutimos por que Tony Gilroy se tornou um dos nomes mais relevantes da história moderna de Star Wars.
De Rogue One ao Renascimento de Andor
Cassian Andor, o espião sombrio de Rogue One, não parecia ser o tipo de personagem que inspiraria uma série própria. No entanto, Andor surpreendeu a crítica e o público ao transformar esse coadjuvante num dos protagonistas mais complexos da franquia. Gilroy explica que, ao iniciar a produção da primeira temporada, o objetivo era simples: tornar Cassian digno da redenção final que vemos em Rogue One. E, segundo ele, essa missão foi cumprida com mérito.
Na concepção de Gilroy, a grande sacada de Andor foi usar a ausência de um passado claro para Cassian como uma tela em branco. Isso permitiu não só uma liberdade criativa rara em Star Wars, como também uma oportunidade de construir um protagonista de dentro para fora, moldado pelas circunstâncias. “Cassian é um herói que não nasce como tal. Ele é moldado, pressionado, quase quebrado até se tornar o homem que conhecemos em Rogue One“, afirma o criador.
A série aproveita esse espaço para contar a história de um homem comum jogado em um conflito muito maior do que ele. Não há destino manifesto, não há profecia, apenas sobrevivência, trauma e a lenta construção de propósito. A cada episódio, o público assiste Cassian perder pedaços de si, enquanto, paradoxalmente, se reconstrói como alguém disposto a morrer pela liberdade dos outros.
A segunda temporada, composta por quatro arcos narrativos situados em anos distintos, levará Cassian da convicção recente ao sacrifício absoluto. Cada segmento representará uma etapa na transformação do personagem, e Gilroy afirma que os eventos de Andor ressignificarão completamente as falas e atitudes do protagonista em Rogue One. “Você não vai mais ver aquele filme com os mesmos olhos. Cada linha do Cassian vai ter outro peso.”
A série, assim, cria um elo emocional profundo entre as produções, entregando ao público não apenas um prequel eficiente, mas um drama autônomo com identidade própria. Para Gilroy, a missão foi cumprida: elevar Cassian Andor de peça funcional em um plano de roubo para símbolo de resistência e sacrifício autêntico.
A Filosofia Gilroy: Guerra, Sistema e Sacrifício
Um dos grandes trunfos da entrevista está na forma como Gilroy discute as camadas temáticas de Andor. A primeira temporada explorou temas espinhosos como o sistema prisional, o colonialismo, o fardo econômico da resistência e a militarização do cotidiano. A segunda vai além. “Agora, temos quatro anos para mostrar como esse homem vira um espião, um soldado, um operário da guerra total.”
Gilroy faz questão de frisar que nunca se tratou de uma história heróica no sentido clássico. Para ele, Andor é sobre as escolhas morais feitas em tempos extremos, sobre como a violência se torna inevitável diante de um império opressor, e como a resistência também se suja para vencer. “É uma série sobre custo, sobre perda.”
Diego Luna: Uma Década com Cassian
Luna reflete sobre o processo de construir Cassian ao longo de dez anos. Na entrevista, revela que o personagem evoluiu junto com ele, mesmo que a cronologia da história tenha sido contada ao contrário. “Você passa a entender de verdade o que ele sacrificou. Aquela fala em Rogue One, agora, vai trazer imagens na sua mente.”
Para Luna, encerrar essa jornada é ao mesmo tempo libertador e transformador. Ele destaca o cuidado da equipe com os detalhes da atuação e do roteiro. Segundo o ator, não houve um único momento de folga criativa. “Todo mundo sabia que a segunda temporada tinha que superar a primeira. A gente sabia o tamanho do desafio.”

Luthen, Maarva, Nemik: Diálogos que Entraram para a História
Os monólogos de Andor já se tornaram lenda entre os fãs. O manifesto de Nemik, o discurso póstumo de Maarva Andor, o desabafo brutal de Luthen Rael: todos são momentos em que Star Wars brilhou como narrativa política, humana e filosófica. Gilroy promete que a segunda temporada trará mais momentos assim. “Não apenas um. Vários.”
E Luna completa: “Mesmo em Rogue One, você vai reassistir e perceber que aquela linha que você ignorava agora vai te fazer prender a respiração.”
A Rejeição ao Modelo Tradicional de Franquia
Quando perguntado se gostaria de fazer cinco temporadas, Gilroy dá uma gargalhada. “Sério? Olha pra gente! Começamos jovens!” A resposta bem-humorada esconde um ponto fundamental: Andor nunca foi pensada como uma franquia infinita. Era uma história com começo, meio e fim.
“Seriam necessários dois Tony Gilroys para fazer cinco temporadas desse jeito”, brinca Luna. A decisão de manter a narrativa enxuta e impactante reforça o compromisso criativo da equipe com a qualidade acima da quantidade.
O Peso de Ser Cânone
Gilroy, que já foi alvo de suspeitas por parte do fandom, afirma que hoje carrega 27 horas de história oficial de Star Wars. “É provavelmente a coisa mais importante que eu vou fazer na carreira.”
Essa afirmação não é apenas uma reflexão pessoal. É também uma declaração sobre como Andor mudou o status da franquia. Se antes Star Wars era visto como entretenimento escapista, agora também é visto como drama político de altíssimo nível.
Cassian Ainda Tem Futuro?
Luna encerra a entrevista dizendo que, sim, esse é o fim. Mas ninguém realmente acredita nisso. Star Wars é uma galáxia onde fins são sempre reinterpretações. E, com o legado de Gilroy consolidado e a aclamada performance de Luna, as portas nunca estarão completamente fechadas.
Conclusão
Tony Gilroy não apenas criou uma série. Ele ergueu uma nova coluna no templo de Star Wars. Com Andor, mostrou que a galáxia pode ser sombria, madura, relevante. Fez do silêncio um grito. Da opressão, um campo de batalha moral. E do sacrifício, uma poesia.
Ao encerrar esse ciclo, Gilroy entrega mais do que uma obra. Ele entrega uma visão. Um espelho onde vemos nossa própria história, nossa luta e nossa esperança.
E talvez, ao revermos Rogue One, vejamos também a verdadeira coragem de quem escolheu, com plena consciência, morrer por algo maior.
E para você? Como foi acompanhar a transformação de Cassian Andor? Acredita que Andor mudou o padrão narrativo da saga? Quais momentos mais marcaram sua experiência?
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