
Contexto da Venda da Lucasfilm
Em outubro de 2012, George Lucas anunciou a venda da Lucasfilm para a Walt Disney Company por mais de US$ 4 bilhões. Em público, ele afirmou que desejava se aposentar da indústria cinematográfica, dedicar-se a projetos menores e pessoais, e passar o legado da franquia para uma nova geração. A decisão foi inicialmente recebida com surpresa e entusiasmo, mas o impacto real viria com o tempo.
Lucas havia elaborado tratamentos completos para os Episódios VII a IX antes da venda. Ele os entregou à Disney como parte do pacote, acreditando que serviriam como base para os novos filmes. Entretanto, ao longo do processo, esses roteiros foram deixados de lado por Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, e pela equipe criativa que incluía J.J. Abrams e Lawrence Kasdan. Lucas esperava alguma colaboração criativa, mas ao perceber que suas ideias seriam descartadas, sentiu-se “traído”, segundo ele mesmo descreveu em entrevista à CBS News.
“Eles não usaram minhas histórias. Basicamente, fizeram algo próprio, o que está no direito deles… Mas eu vendi minha filha para escravos brancos.” (posteriormente ele pediu desculpas pela metáfora infeliz).
Para Lucas, o maior incômodo foi ver o retorno a elementos já explorados, em vez da expansão ousada que ele mesmo sempre defendeu.
O Despertar da Força (2015)
Lucas criticou o filme por seu tom “retrô”, afirmando ao entrevistador Charlie Rose que, diferente de seus filmes originais, o Despertar da Força “não trazia nada de novo” no visual ou na narrativa . Ele chegou a comparar a abordagem com a de “escravos brancos” — comentário que depois retratou . Para Lucas, o filme foi uma homenagem bem feita, mas faltou inovação.
Os Últimos Jedi (2017)
Surpreendentemente, Lucas demonstrou apoio a este capítulo, elogiando-o como “maravilhosamente feito”. Rian Johnson injetou originalidade e profundidade — algo que Lucas considera essencial para manter a saga relevante.
Ascensão Skywalker (2019)
Lucas dirigiu críticas a este desfecho, apontando que ideias-chave do cânone original foram perdidas após a venda. Em trecho publicado pelo Hollywood Reporter, ele comentou:
“… quando começaram com os outros [filmes após a venda], muitas daquelas ideias acabaram se perdendo. Mas é assim que é. Você entrega, e é isso.”
Lucas lamentava que muitos elementos originais — sobre A Força, personagens e arcos — não foram preservados, ao passo que ele tinha ideias claras mesmo após Os Últimos Jedi.
Roteiros Originais de Lucas
Antes da venda, Lucas criou tratamentos para episódios VII-IX, inspirados no pós-Guerra do Iraque. Neles, Leia reconstrói a República, Luke reconstrói a ordem Jedi e antigos stormtroopers se tornam insurgentes. Darth Maul ressurge como líder do submundo, com Darth Talon (dos quadrinhos) como antagonista principal. Luke reconstrói o Jedi de jovens crianças, Leia assume o papel de “escolhida” liderando a política, e Maul governa as gangues. O arco de redenção original, porém, não foi utilizado pela Disney.
Repercussão das Falas
As declarações públicas e privadas de George Lucas em relação às sequências geraram ondas de repercussão por toda a comunidade de fãs e na mídia.
Quando afirmou que O Desperta da Força não era inovador e repetia ideias antigas, muitos fãs sentiram-se validados. A crítica de Lucas foi vista como uma confirmação de que os novos filmes, embora tecnicamente bem produzidos, não tinham a mesma profundidade filosófica e simbólica dos anteriores. No entanto, houve quem defendesse que a crítica dele vinha de ressentimento pela perda de controle e que os novos filmes agradaram a uma nova geração de fãs.
A revelação de que os roteiros originais incluíam Darth Maul, Talon e um novo arco político para Leia alimentou teorias sobre o que poderia ter sido — muitos fãs até hoje desejam ver essa trilogia alternativa desenvolvida em animações ou quadrinhos.
Críticos mais ferrenhos de Lucas acusaram-no de hipocrisia, lembrando das polêmicas com os prequels e o seu controle autoral excessivo. Ainda assim, suas falas passaram a ser objeto constante de vídeos, análises e debates em podcasts, fóruns e eventos de fãs.
“Perdi o controle” Sobre o Universo
Uma das frases mais emblemáticas de George Lucas em relação à franquia após a venda foi:
“Uma vez que você vende, perde o controle. Eu sabia disso. Mas é como se você tivesse se casado e depois tivesse que assistir sua ex-esposa se casar de novo e fazer algo completamente diferente com os filhos.”
Essa metáfora foi usada por Lucas para ilustrar seu desconforto ao ver sua criação ser reformulada por outras pessoas. Embora ele tenha tentado manter uma postura pública de apoio à nova fase, a frustração era evidente.
Lucas compareceu discretamente a eventos da saga e evitou interferir nos bastidores criativos. Ele chegou a dizer que estava se afastando “para evitar atritos”. Essa sensação de distanciamento, ou de ser um “padrasto indesejado” da franquia, foi percebida por muitos como sintoma de uma ruptura profunda entre a visão original da saga e o novo caminho corporativo da Disney.
Lucas Sobre Yoda e Diversidade
Em aparição no TCM Classic Film Festival de 2025, Lucas lembrou que Yoda fala de modo invertido para forçar o público, especialmente crianças, a prestar atenção, pois ele era o “filósofo” da saga. Ele também se defendeu das acusações de “Star Wars é só homens brancos”, afirmando que “a maioria são alienígenas” e que os droides representavam temas de preconceito
Visão Final
George Lucas sempre concebeu Star Wars como uma saga interligada sobre política, mitologia, espiritualidade e equilíbrio. Seus seis episódios formam uma estrutura quase operática sobre a ascensão, queda e redenção de Anakin Skywalker.
Com a venda, essa estrutura se fragmentou. A nova trilogia da Disney adotou uma abordagem mais episódica, com cada filme feito por equipes diferentes e, segundo muitos críticos, sem uma linha narrativa clara entre eles.
Lucas lamentou a perda de coerência filosófica. Ele afirmou que “a Força” havia sido simplificada, e que os temas sobre o ciclo de poder e corrupção foram trocados por disputas familiares e nostalgia.
“Os primeiros seis [filmes]… são muito meus. Minha filosofia vai além de qualquer momento. Eles falam sobre sociedade, espiritualidade e política.”
Mesmo assim, ele reconhece que o público é quem decide o que permanecerá como legado. Embora as sequências não reflitam seu estilo, Lucas compreende que Star Wars cresceu para além dele. Sua visão foi a semente — o que brotou, no entanto, é obra de muitos jardineiros.
George Lucas, pessoa a quem muito admiro, teria obviamente feito um trabalho muito melhor, caso tivesse produzido as sequels. No entanto, a ideia de uma superarma do episódio IV, ele repetiu no VII e até mesmo, de forma mais discreta, no I. A Base Starkiller no EP. VII, nesse sentido, acaba sendo bem a cara dele mesmo. O mesmo para a frota de destroyers com canhões no episódio X. Ou seja, apesar das sequels serem repetitivas e graças, sinceramente não sei se Lucas teria feito algo tão diferente. Mesmo assim, acho que valeria a pena o risco.
Parabéns pelo texto e informações.
Nós que agradecemos!! Que a Força esteja com vc sempre!!