
Por Portal TdW especializado em Star Wars
1. Introdução: o Vácuo da Incerteza
A Ordem 66 foi um golpe brutal que transformou a galáxia, e deixou o destino de Anakin Skywalker envolto em dúvidas. Enquanto o Império assertivamente propagava a narrativa de que os Jedi eram traidores e assassinados em combate, a verdade era outra: Anakin havia sobrevivido, renascendo como Darth Vader. Este artigo examina, com riqueza de detalhes, como diferentes facções da galáxia interpretaram o deslocamento de Anakin após a queda dos Jedi.
2. O Contexto de Ordem 66
A Ordem 66 não foi apenas um comando militar frio e mecânico; ela foi o golpe final que transformou a República em Império, apagando os Jedi como guardiões da paz. Para Anakin Skywalker, a galáxia era um tabuleiro caótico onde ele acreditava que só ele podia impor uma ordem verdadeira — e isso, à custa dos ideais antigos.
Anakin via a galáxia como um lugar onde a burocracia da República era lenta e corrupta, e os Jedi, por mais nobres que fossem, estavam presos a um código que os limitava. Ele via a necessidade de poder centralizado para evitar o caos, de um líder forte que pudesse acabar com guerras intermináveis e traições internas. Na cabeça dele, o Império era essa solução.
Quando a Ordem 66 foi emitida, para Anakin, não era só uma questão de lealdade cega ao Imperador, mas uma oportunidade de remodelar a galáxia sob sua visão — uma visão de controle absoluto, onde ele acreditava que o “fim justificava os meios”. Para ele, eliminar os Jedi, que se recusavam a ver as nuances do poder, era uma necessidade para criar paz e estabilidade duradouras.
Por isso, sua transição para Darth Vader não foi só uma queda, mas uma consequência lógica da sua perspectiva distorcida do que a galáxia precisava — ordem a qualquer custo, sacrifício de princípios antigos para um futuro supostamente melhor. A galáxia vista por Anakin era um lugar onde o poder absoluto não era apenas desejável, era inevitável.
3. A Perspectiva Oficial do Império
No coração do regime imperial, a identidade de Darth Vader era envolta em mistério, e essa opacidade era deliberada. A narrativa oficial do Império era clara e objetiva: Anakin Skywalker, o herói da República, Cavaleiro Jedi de renome durante as Guerras Clônicas, morreu heroicamente durante o ataque ao Templo Jedi, durante os eventos que marcaram o fim da Ordem Jedi. Um mártir da causa da nova ordem.
Esse relato fazia parte do esforço propagandístico do Império para apagar qualquer ligação entre o passado Jedi de Vader e sua nova persona como o executor implacável do Imperador. Manter a figura de Vader como um ser quase mítico, uma força sombria de autoridade e terror, servia a dois propósitos:
- Despersonalizar sua figura, tornando-o um símbolo do poder imperial absoluto — não um homem, mas uma máquina, fria e obediente;
- Proteger o próprio Imperador, ao eliminar qualquer suspeita sobre a natureza da transição de poder da República para o Império, e principalmente sobre os meios usados para destruir os Jedi.
Quem realmente sabia da verdade?
A lista era extremamente curta, cuidadosamente controlada:
- Palpatine (Darth Sidious): Obviamente, o arquiteto de tudo. Ele moldou a transição de Anakin para Vader com precisão cirúrgica, emocional e ideológica.
- Alguns membros do círculo interno do Império, como Mas Amedda e Sly Moore, sabiam ou desconfiavam, mas mantinham silêncio absoluto por sobrevivência política — e porque Palpatine fazia questão de manter a informação compartimentada.
- Tarkin provavelmente sabia ou ao menos desconfiava. Há evidências nas interações dele com Vader (como em “Tarkin”, de James Luceno) que sugerem um conhecimento implícito. Mas ele, como pragmático que era, via Vader como uma arma útil — e não fazia perguntas desnecessárias.
- Thrawn, com sua inteligência estratégica incomum, provavelmente deduziu a verdade por conta própria, mas era prático demais para expor isso — ele entendia o valor de manter certas verdades enterradas em nome da estabilidade imperial.
Fora isso, qualquer menção à identidade passada de Vader era considerada traição e punida com a morte. O Império construiu com sucesso uma linha de separação total entre Anakin Skywalker e Darth Vader na mente pública e até mesmo entre os altos escalões. Para os oficiais imperiais, Vader era o punho do Imperador. Só isso.
4. E quanto ao público geral?
O cidadão comum da galáxia vivia numa bolha de propaganda e desinformação cuidadosamente arquitetada pelo Império. Para o povo, Anakin Skywalker era praticamente uma lenda esquecida, um nome enterrado junto com os Jedi — que, segundo a versão oficial, eram traidores da República e causadores do caos.
A galáxia inteira foi bombardeada com a narrativa imperial de que a Ordem 66 foi um movimento necessário para salvar a República da corrupção e da desordem. Os Jedi foram pintados como rebeldes perigosos, insubordinados e até hereges que tentaram derrubar o governo legítimo. Nada de falar que eles eram guardiões da paz por gerações, ou que Anakin, um dos seus melhores, foi manipulado e virou Darth Vader.
A mídia imperial, controlada a ferro e fogo, espalhou mensagens que moldavam a percepção pública:
- O Império era o salvador da galáxia, trazendo ordem e segurança depois de anos de guerra.
- A queda dos Jedi era um evento lamentável, mas inevitável para o bem maior.
- Darth Vader era o braço forte do Imperador, um símbolo do poder absoluto e do novo tempo.
Para o cidadão médio, entender as nuances da galáxia era algo distante, e até perigoso. Falar sobre Anakin Skywalker ou questionar a narrativa oficial podia significar desaparecimento ou pior. Então, o medo e a desinformação trabalhavam juntos para manter a população submissa.
Com o tempo, as histórias antigas foram apagadas, distorcidas ou esquecidas, e o Império se consolidou como a única verdade possível. O passado Jedi virou conto de fadas ruim, e Anakin Vader era só o executor sombrio que mantinha a ordem.
5. Entre os Jedi Sobreviventes
Após o massacre, sobreviventes como Obi-Wan Kenobi e Yoda se tornaram agentes de resistência silenciosa. Em Obi-Wan Kenobi, o velho mestre assumiu que Anakin havia morrido em Mustafar durante o confronto, reforçando a crença entre os Jedi de que Vader não existia mais como Anakin. Essa ilusão permitiu que Obi-Wan levasse uma vida clandestina por uma década, cuidando de Luke em Tatooine.
6. O Submundo e a Confusão
No submundo galáctico, histórias contraditórias ganharam força. Havia quem afirmasse que Anakin virou Darth Vader e perambulava executando pessoas a mando do Imperador — relatos que circulavam como lendas sombrias entre contrabandistas, caçadores de recompensa e remanescentes Jedi.
7. Interpretação do Cinema e da TV
Nas séries como Obi-Wan Kenobi, Obi-Wan expressa claramente acreditar que “Darth Vader está morto”. Luke, filiado à crença do tio Owen, foi instruído a pensar da mesma forma — reforçando a narrativa imperial na periferia galáctica . Assim, a ideia de que Anakin sobrevivera como Vader foi suprimida em grandes áreas da galáxia.
8. Narrativas Contraditórias e Lendas Urbanas
- Executado com os Jedi: a versão oficial pictórica, aceita por muitos setores da Nova República.
- Transformado em Vader: boatos que surgiram com força no submundo e entre remanescentes da República.
- A caminho de Mustafar: a crença de que Obi-Wan executou Vader no local da batalha — o que se provou falso quando Luke encontrou Vader vivo.
- Herói caído: alguns setores da Resistência admiravam a ideia de que um herói da República seguira fiel, mesmo renegado.
9. A Reconciliação no Roteiro de Lucas
George Lucas concebeu a saga de forma a permitir que as três versões convivam: o Imperador teoria propaganda, Obi-Wan teoria emocional e Luke teoria de tragédia. Essa recomposição narrativa permite que Vader exista sem que as pessoas “normais” o encontrem facilmente.
10. O Legado da Ordem 66
- Política: o desaparecimento de Anakin como figura pública evitou conflitos de legitimidade.
- Emocional: Jedi viveram na esperança de redenção ou vingança.
- Narrativo: a ambiguidade sobre o destino de Anakin conferiu profundidade às séries e aos temas de legado, identidade e redenção.
11. A Ambiguidade como Ferramenta Narrativa
A galáxia tinha diversas versões sobre o destino de Anakin. Nenhuma estava completamente errada, e nenhuma estava certa. Essa nuança narrativa enriquece o lore, permitindo que fãs especulem sobre com quem Anakin poderia realmente estar: morto, transformado ou camuflado. Essa dicotomia entre percepção pública e realidade pessoal tornou-se uma das riquezas do novo cânone.