
Por Portal TdW – “A galáxia nunca mais será a mesma.”
Introdução
Dan Gilroy não é apenas um roteirista consagrado em Hollywood; ele é também uma das mentes criativas por trás de Andor, aclamada produção do universo Star Wars que redefiniu a forma como a saga pode ser contada. Conhecido por seu trabalho incisivo em O Abutre (Nightcrawler, 2014) e por suas colaborações com o irmão Tony Gilroy, showrunner da série, Dan trouxe uma profundidade incomum para a televisão ao explorar os mecanismos do poder e a luta da resistência contra o Império.
A entrevista que apresentamos aqui foi conduzida por Al Horner, no podcast Script Apart, e expandida a partir de declarações recentes do roteirista à imprensa internacional. Gravada em agosto, em meio ao sucesso da primeira temporada de Andor, a conversa se desenrola em torno de temas centrais: autoritarismo, rebelião, personagens complexos e até mesmo a surpreendente revelação de que o Imperador Palpatine faria parte do arco original de cinco temporadas idealizado para a série.
Nesta matéria exclusiva, o Portal TdW mergulha fundo nas declarações de Gilroy, apresentando uma análise detalhada de seus pontos mais reveladores, trazendo bastidores inéditos e conectando-os ao presente e futuro da galáxia muito, muito distante.

Quem é Dan Gilroy e por que ele importa em Star Wars
Para entender o peso das palavras de Dan Gilroy, é necessário situá-lo no contexto da franquia. Ele não é apenas “mais um roteirista contratado” para cumprir prazos: sua trajetória mostra um artista fascinado pelos mecanismos do poder e pelos dilemas morais de personagens colocados em situações-limite. Em Nightcrawler, seu roteiro expôs a podridão da mídia sensacionalista; em Roman J. Israel, Esq. (2017), mergulhou nas contradições da luta por justiça social. Quando decidiu colaborar em Andor, era evidente que levaria consigo esse olhar crítico e realista.
Gilroy entrou no time criativo de Andor como uma das vozes mais experientes, responsável por roteiros que equilibriam espionagem política, dilemas éticos e a dureza da luta rebelde. Sua função foi essencial: construir a densidade psicológica dos personagens, fugir do maniqueísmo e inserir debates que ecoam a história do mundo real.
Em suas próprias palavras, ele e Tony foram “cativados pelas maquinações do poder”, decidindo explorar como figuras autoritárias, ao longo da história, “seduziram eleitores, tomaram o controle de nações e erodiram pilares importantes da democracia” disse Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
“Ele [Dan Gilroy] ficou cativado pelas maquinações do poder; como, ao longo da história, figuras autoritárias seduziram eleitores, tomaram o controle de nações e erodiram pilares importantes da democracia.” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
Essa perspectiva é o que diferencia Andor de outros produtos de Star Wars: não é apenas sobre sabres de luz ou batalhas espaciais, mas sobre como sociedades sucumbem ao fascismo e como a resistência nasce de forma dolorosa e ingrata.
O papel de Dan foi justamente garantir que o texto refletisse esse desconforto. E é nesse ponto que sua visão se torna crucial para a saga: ele trouxe para o cânone um olhar quase acadêmico sobre poder e rebelião, transformando Andor em um estudo político dentro de uma galáxia fictícia.
A Rebelião Não É Gloriosa: A Dureza em Andor

Um dos pontos mais impactantes da entrevista é como Gilroy insiste em retratar a rebelião não como uma epopeia heroica, mas como um processo desgastante, cheio de dor, perda e sacrifício. Segundo ele, raramente o cinema ou a TV mostraram o quão brutal e ingrata pode ser a resistência contra um regime opressor.
“É um conto tão antigo quanto o tempo em nossos livros de história – mas não necessariamente em nossos filmes e programas de TV, que nem sempre mostraram o quão dolorosa e ingrata a rebelião realmente é. Isso é, até Andor.” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
Essa frase resume bem o espírito da série. Ao contrário da trilogia clássica, que apresenta Luke, Leia e Han como heróis inspiradores que triunfam contra todas as probabilidades, Andor mergulha na realidade da guerra suja, dos sacrifícios silenciosos e das derrotas constantes. A rebelião não surge pronta e unida: ela é construída a partir de fragmentos, desconfianças, espionagem, perdas e escolhas moralmente cinzentas.
Esse retrato vai ao encontro do que George Lucas sempre quis transmitir sobre os Jedi e os Sith: que Star Wars é, no fundo, uma narrativa sobre política e poder. No entanto, Gilroy leva isso a um nível inédito. Ele conecta o arco de Cassian Andor à experiência histórica de movimentos de resistência no mundo real, desde os que enfrentaram regimes fascistas até aqueles que lutaram contra ditaduras militares.
Em um momento da conversa, Gilroy explica que desejava mostrar “as décadas punitivas de luta” que antecedem uma vitória concreta. A rebelião não é feita apenas de explosões heroicas, mas de noites insones, traições internas, recursos escassos e vidas ceifadas pelo caminho. Esse tom, que alguns consideraram “sombrio demais” para Star Wars, foi justamente o que conquistou parte da crítica e consolidou Andor como uma das séries mais maduras já produzidas pela Lucasfilm.
Além disso, a decisão de retratar a rebelião dessa forma tem implicações diretas para o cânone. Ela explica por que a Aliança Rebelde só se consolidou tardiamente, pouco antes dos eventos de Uma Nova Esperança. Ao mostrar o sangue, suor e lágrimas que antecederam a união dos rebeldes, Andor legitima o peso da vitória final contra a Estrela da Morte.
“A luta da resistência não é glorificada, mas apresentada em suas complexidades e sacrifícios.”
Essa abordagem, no entanto, também abre espaço para debates entre os fãs: até que ponto Star Wars deve ser politizado de forma tão explícita? Seria arriscado afastar parte do público que busca apenas entretenimento escapista? Gilroy parece não ter dúvidas: para ele, Andor é um alerta sobre os perigos sempre presentes do autoritarismo — dentro e fora da galáxia.
Cassian Andor: O Herói Relutante
Cassian Andor, vivido por Diego Luna, é o centro emocional da série. Mas, segundo Gilroy, ele não foi pensado como um herói clássico.
“A verdade sobre quem Cassian era…” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
A série explora sua ambiguidade moral, mostrando um homem que já cometeu crimes e que não se orgulha de sua trajetória. Essa desconstrução é fundamental para que o público entenda como alguém aparentemente comum se torna peça-chave da rebelião. Gilroy mostra que Cassian não nasceu herói: ele foi moldado pelo fogo da opressão imperial.
Ao humanizá-lo, Andor se afasta da fórmula “bem contra o mal” e nos lembra que a rebelião é feita de pessoas falhas, que precisam superar o medo para agir.

Syril Karn: O Outro Lado do Espelho
Outro personagem que ganhou destaque foi Syril Karn, interpretado por Kyle Soller. Um burocrata imperial obcecado por ordem e disciplina, mas que não é simplesmente um vilão genérico.
“A verdade sobre quem o burocrata Imperial Syril era…” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
Gilroy explica que Syril representa a face humana da engrenagem imperial: alguém que acredita estar servindo a algo maior, mesmo que esse “algo” seja o fascismo. Ele é o retrato de como regimes autoritários se apoiam em indivíduos comuns, disciplinados e cegamente obedientes.
Sua trajetória questiona até que ponto a lealdade a uma ideologia pode consumir a identidade pessoal. E, em paralelo a Cassian, mostra que os dois lados da guerra são movidos por convicções humanas, não apenas caricaturas.

O Imperador no Plano Original
Talvez a revelação mais bombástica feita por Dan Gilroy tenha sido a confirmação de que o Imperador Palpatine faria parte da série caso o arco original de cinco temporadas fosse mantido.
“Se a série se estendesse ainda mais, bem poderíamos ter visto o Imperador Palpatine.” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
A presença de Palpatine traria uma conexão direta com a trilogia clássica, mas também com a ascensão do autoritarismo na galáxia. O Imperador é a síntese das “maquinações do poder” que tanto fascinavam os Gilroy. Sua inclusão poderia mostrar como o Império consolidou o medo como arma política, revelando bastidores que a saga nunca explorou em profundidade.
Esse detalhe reacendeu nos fãs discussões sobre o quanto Andor poderia ter expandido ainda mais o universo — e o quanto a redução para duas temporadas limitou parte desse potencial.

O Episódio “Alien” de K2SO
Outro detalhe curioso revelado por Gilroy envolve K2SO, o dróide favorito dos fãs. Segundo ele, um episódio chegou a ser escrito, mas nunca produzido, que teria sido inspirado em Alien, de Ridley Scott.
“Um episódio que ele diz que teria sido como Alien, com o robô favorito dos fãs K2SO desempenhando um papel semelhante ao de um Xenomorfo.” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
A ideia era explorar K2SO de forma sombria, quase aterrorizante, antes de se tornar parceiro inseparável de Cassian. Isso mostra o quanto os roteiristas estavam dispostos a ousar, inserindo gêneros inesperados dentro de Star Wars.
Embora nunca tenha saído do papel, esse conceito reforça a criatividade por trás da série e a liberdade artística que a equipe buscava — algo raro dentro de uma franquia global tão controlada.
Andor como Alerta Político
Mais do que entretenimento, Gilroy sempre defendeu que Andor deveria ser um aviso sobre os perigos do fascismo.
“Os avisos que ele esperava que seus episódios fornecessem, sobre como o fascismo funciona.” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
A série não esconde suas intenções: ela mostra como o poder é corroído lentamente, como as instituições são enfraquecidas e como cidadãos comuns acabam normalizando a tirania. Essa leitura política é parte do DNA de Star Wars, desde a trilogia de George Lucas, mas aqui é apresentada sem metáforas.
No contexto atual, em que debates sobre democracia e autoritarismo estão em alta no mundo real, Andor ganhou uma relevância inesperada. Para Gilroy, essa é a função de uma boa ficção científica: não prever o futuro, mas alertar sobre o presente.

Bastidores e Detalhes Inéditos
Entre as revelações de Gilroy, há pequenos detalhes que ajudam a entender a atmosfera de Andor. Ele comenta que a produção foi pensada como um “thriller de espionagem política”, inspirado em clássicos do cinema dos anos 70. Essa abordagem foi crucial para criar o tom mais sombrio e realista da série.
Outro bastidor curioso foi a forma como os roteiristas trabalharam lado a lado com a Lucasfilm para manter a série coerente com o cânone. A ideia nunca foi negar o espírito de Star Wars, mas ampliá-lo, trazendo uma narrativa adulta, sofisticada e, ao mesmo tempo, profundamente fiel ao conceito original de George Lucas: mostrar como a liberdade pode ser corroída pelo autoritarismo.
“O retrato eletrizante de uma banda de espiões operando nas sombras para tentar derrubar o Império foi sofisticado e, aos olhos de muitos espectadores, incrivelmente oportuno, também.” Dan Gilroy em entrevista a Script Apart.
Esses bastidores reforçam a visão de Gilroy: Andor não nasceu para agradar a todos, mas para preencher uma lacuna narrativa na saga.

Relevância de Andor no Contexto Atual
As falas de Gilroy encontram eco direto na situação política e social do mundo contemporâneo. Democracias fragilizadas, polarização crescente e o retorno de discursos autoritários tornam a mensagem de Andor extremamente atual.
A série também se conecta com outros produtos recentes de Star Wars, como Ahsoka e The Mandalorian, que exploram diferentes facetas do Império e da Nova República. Mas, entre todas, Andor é a que mais mergulha na realidade da opressão e da luta por liberdade.
“Andor é um alerta sobre os perigos do autoritarismo e uma exploração honesta da natureza da rebelião.”Novo Documento de Texto
No fandom, isso gerou discussões intensas. Parte dos fãs abraçou o tom político; outros consideraram a série “densa demais”. Porém, não há dúvida de que Andor deixou sua marca como um divisor de águas dentro da franquia.
Conclusão: O Legado de Dan Gilroy em Star Wars
A entrevista com Dan Gilroy revela muito mais do que bastidores de uma série: ela mostra como Star Wars ainda pode se reinventar sem perder sua essência. Do plano original de cinco temporadas com Palpatine ao episódio inédito de K2SO em estilo Alien, passando pela construção de personagens complexos como Cassian e Syril, fica claro que Andor nasceu para desafiar convenções.
A mensagem mais poderosa deixada por Gilroy talvez seja esta: a rebelião nunca é gloriosa, mas é necessária. Sua visão coloca Andor como um estudo de como sociedades resistem à tirania — e como, mesmo em meio à dor, é possível acender a chama da esperança.
Encerramos esta entrevista com um convite a você, leitor do Portal TdW:
👉 O que você achou das revelações de Dan Gilroy?
👉 Gostaria de ter visto o Imperador Palpatine em Andor?
👉 Acha que Star Wars deve seguir explorando esse tom político e maduro?
Deixe seu comentário abaixo e participe da discussão. E para continuar no ritmo da galáxia muito, muito distante, confira também nossas análises de Obi-Wan Kenobi e da Alta República.
“A rebelião pode ser ingrata, mas sem ela, a escuridão reina para sempre.”
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