
Por Portal TdW, especializado em Star Wars – “Descobrindo os caminhos não trilhados da galáxia que poderia ter sido”
Desde o início, George Lucas concebeu um universo muito mais vasto e diferente do que vimos nas telas. Algumas ideias ficaram só no papel — ou foram parcialmente transformadas — até desaparecerem. Mas e se essas histórias tivessem sido contadas? Nesta matéria, exploramos 10 ideias originais descartadas por Lucas que, se levadas adiante, teriam mudado profundamente a Saga de Star Wars.
1. Luke era uma mulher — a jovem Starkiller
Nos rascunhos iniciais de Uma Nova Esperança (1973–74), Luke Starkiller era uma jovem feminina de 18 anos, não o icônico Luke Skywalker. Gary Kurtz e outros colaboradores apontam que essa protagonista tinha o mesmo arco heroico, aprendendo sobre a Força e sendo treinada por Obi‑Wan, mas com uma identidade mais centrada no universo feminino. A migração de gênero influenciaria toda a narrativa: figuras femininas não teriam sido apenas coadjuvantes — Leia, amidada inicialmente como lady de resgate, poderia ter sido uma versão mais coesa e autônoma de si mesma desde o início, junto com Starkiller. Isso não só mudaria o discurso feminista em Star Wars, como também reformularia a dinâmica entre personagens (pai-herdeiro, mestre-aprendiz, vilão-herói).
Se Lucas tivesse mantido a protagonista feminina, muitas histórias e spin-offs poderiam ter girado em torno de uma heroína que transcende gerações — imagine uma Ahsoka mais profunda associada a Starkiller. Essa mudança teria criado um legado diverso e inspirado para mulheres no universo expandido, reforçando escolhas como Rian Johnson fez em The Last Jedi, mas com décadas de antecedência.
2. O “Ashla” e o “Bogan” — nomes antigos para o Lado da Força
Enquanto assistíamos a “Lado Claro” e “Lado Sombrio”, Lucas pensava em termos mais místicos: Ashla para o bem, Bogan para o mal. Esses termos, tirados de manuscritos antigos, sugerem uma cultura Jedi/Sith com vocabulário próprio, ritualístico e menos antropomórfico.
A adoção desses termos teria enriquecido o cânone: os mestres poderiam recitar ensinamentos milenares em Ashla, enquanto o Parlamento Sith invocaria Bogan. Isso daria à franquia uma identidade linguística profunda, escalável para séries, quadrinhos e jogos — ao invés de termos genéricos, os Jedi seriam guardiões da Ashla, e os Sith, cultistas de Bogan.
Teríamos símbolos visuais de membros do Culto de Bogan, manuscritos iluminados em arte runiforme, e as diferenças entre Jedi e Sith refletidas em dialetos. Essa distinção aprofundaria o sentimento de alteridade e magia, diferente da simplicidade polarizada atual.
3. Obi-Wan matava o pai de Luke?
Em rascunhos anteriores de Empire, Obi-Wan dizia a Luke que os Jedi tinham matado seu pai — não revelando Vader como pai, mas criando uma tensão moral pesada. Luke poderia então desprezar seu mentor, questionar a moral Jedi, e desencadear um arco de conflito interno único.
Essa versão não retira o impacto do plot twist de Vader, mas o compõe: Obi‑Wan como vilão moral, Luke como detective ético, escolheria questionar a ordem Jedi. Isso abriria espaço para experiências como Kenobi explorarem temas de culpa e redenção mais complexo, além de fundamentar a ruptura posterior de Luke com a Ordem.
Ao contar outra história sobre confiança e desilusão, essa trama apresentaria Obi‑Wan como um herói trágico, e Vader como vítima de ideais falhos. A saga teria convicção bem diferente — menos maniqueísta, mais trágica.
4. Jar Jar se torna um vingativo — até Sith?
O comediante Jar Jar foi originalmente concebido para ter um arco bem mais sombrio: sua cidade, Otoh Gunga, havia sido destruída, e a perda geraria um desejo de vingança. A versão final mostrou um gungan atrapalhado, leve. Já a ideia original colocaria Jar Jar como personagem traumático e sombrio — talvez até com uma conexão inesperada com o Lado Sombrio ou mesmo como discípulo disfarçado do mal.
Imagine uma sequência em que ele persegue o responsável por Otoh Gunga, encontra aspectos sombrios via midi‑chlorians e desenvolve poderes desconhecidos. Ele não seria apenas alívio cômico, mas alguém lutando entre perdão e vingança — com potencial dramático para a Mitologia Sith.
Essa trama ressuscitaria teorias de fãs que apontam Jar Jar como Sith oculto — e, embora controlor compreensivelmente descartasse por ser “massa pesada” para público jovem, ainda haveria espaço para uma série derivada sobre culpa, trauma e reconciliação.
5. Boba Fett, irmão de Anakin Skywalker
Antes dele se tornar mercenário silencioso, Lucas cogitou Boba Fett como filho perdido de Anakin Skywalker — tornando-o meio‑irmão de Luke. A revelação mudaria tudo: não apenas Fett teria motivação emocional para seguir Vader, mas seu personagem teria profundidade dramática incomum em um caçador de recompensas.
Nesse cenário, Fett teria sido adotado ou escondido por rancorosos, criando laços com Vader. Luke, ao encontrá-lo, poderia descobrir um irmão rival, uma relação complexa entre sangue e redenção. Mesmo sem nomear, o enredo daria peso à herança Skywalker, transformando Fett em contraponto vivo e irmão torturado de Luke.
A saga teria se aprofundado nos temas de legado e identidade, similar a como The Clone Wars explorou a irmandade de Rex e saques clonados — mas mais dramático e emocionalmente visceral.
6. Darth Maul, uma vilã
Darth Maul, o terror silencioso, quase foi retratado como mulher, talvez inspirada por Maggie Cheung. A apresentação teria sido inovadora: uma figura feminina imponente na mortal Ordem Sith, igualando os corredores de poder, antes mesmo de figuras como Asajj Ventress ou Leia Organa ganharem força narrativa.
Essa versão feminina de Maul carregaria sabres duplos e personalidade fria, contrastando dramaticamente com a fúria patrícia dos Jedi. Visualmente elegante, teria redefinido o papel feminino como não apenas emocional, mas intelectualmente e combativamente superior. Teriam surgido contrastes poderosos: Amidala x Maul, Yin-Yang de poder e política.
Ter Maul como figura feminina — como anti-Amidala — enriqueceria a saga com dualidade de gênero no combate, poder e política, aprofundando temas femininos e oferecendo representatividade visual e narrativa ainda adensada.
7. Padmé trai Anakin — com tentativa de assassinato
No corte final de Revenge of the Sith, Padmé se mostrava altruísta. Antes disso, Lucas considerou um enredo bem diferente: ela conspirava ou tentava matar Anakin, por medo/poder, documentado em entrevistas e arquivos. Uma Padmé com motivações ativas — política, paixão e medo — torna-se personagem profundamente trilhada.
Com isso, ela se tornaria moralmente ambígua: leal a seu povo, mas capaz de ações extremas. Ao tentar assassinar Anakin, ela assumiria uma culpa pesada que definiria o drama final: não apenas sobrou a morte dela, mas a traição. Anakin se tornaria ternamente motivado por medo — não só perda, mas possível agressão de Padmé.
Esse roteiro amplificaria sua densidade narrativa como figura ativa na queda de Anakin, não apenas pretexto romântico — presença política e emocional com consequências reais. Traria dilemas morais centrais, ecoando tragédia clássica: amor, traição, morte.

8. A trilogia das sequelas com os Whills de George Lucas
Após os prequels, Lucas planejou explorar os Whills, seres microbióticos mesclando meio espiritual, meio científico. Nos planos originais, Jedi eram “veículos” para os Whills, criaturas microscópicas que manipulavam a Força via midi‑chlorians — uma mitologia biológica da Força que eclipsaria conceitos atuais. O livro “Journal of the Whills” e entrevistas confirmam que Lucas via a saga como narrativa contada pelos Whills.
Nessa versão, sequências pós‑Jedi mostrariam Luke e novos protagonistas investigando origens da Força — explorando laboratórios, civilizações Fetucianas e ecologia midi‑chormid. Seria trilogia metafísica, com tecnologia e fé literalmente misturados.
A ideia é fascinante: a Força viraria campo científico-vivo, com poderes “biocósmicos” que desafiam conceitos espirituais. Mas essa abordagem foi deixada de lado, adotada apenas parcialmente em Rogue One, nos “Guardians of the Whills” — monásticos, não seres vivos.
9. Underworld — série criminal de Coruscant
George Lucas pretendia uma série live‑action focada no submundo de Coruscant, muito antes de The Mandalorian. A proposta explorava mafiosos, mercenários, stormtroopers corruptos e caçadores de recompensa — uma galáxia sem Jedi, centrada em crime político, escândalo e tensão urbana.
Imagine uma série cheia de negociações sombrias, redes de poder, espiões imperiais, toxinas e duelos no subsolo da capital galáctica. Isso anteciparia visualmente Underworld, mas sem a tecnologia StageCraft, exigindo sets reais. Uma máfia interplanetária como ficção espacial pesada, rivalizando com Gomorra, mas em clima sci-fi.
Os enredos incluiriam Natal da sinistra política imperial: Crimson Dawn, Black Sun e até triunfos criminosos pós‑Império. Fazer isso antes de Disney poderia ter estabelecido a estética urbana e moral cinza que só vimos em The Clone Wars ou Rebels.
10. Kenobi vivo em Return of the Jedi
No final de Return of the Jedi, Obi‑Wan se torna espírito da Força. Mas Lucas considerou trazer um Obi‑Wan corporeo — talvez em um retorno físico que interage com Luke e Vader após a queda do Império.
A presença viva dele no confronto final teria criado outra dinâmica dramática: Luke entre mestre e pai, confrontando Vader com Obi‑Wan à vista de todos. O momento de redenção seria compartilhado, humano e visceral, em vez de espiritual.
Ele teria marcado simbólica e emocionalmente o encerramento da saga principal, mostrando o significado da Ordem Jedi renascer — não em fantasmas, mas em história viva, pedaço vivo do legado, renascendo com sabres alinhados, Jedi vivos no campo.
Encerramento
Essas 10 ideias descartadas mostram como George Lucas sonhou com uma saga mais sombria, profunda, biológica, linguística e matriarcal. Cada proposta em si teria mudado o rumo narrativo e cultural de Star Wars, com personagens e universos muito mais densos, orgânicos e dramáticos.
Perguntas ao leitor
- Qual dessas ideias você gostaria de ver em filme ou série?
- O que acha de Star Wars ter emergido com protagonista feminina desde o começo?
- A mitologia dos Whills mudaria sua percepção da Força?
Sugestão de leitura
Para aprofundar, indico The Star Wars Archives 1977–1983 e 1999–2005, de Paul Duncan — repletos de tratamentos, rascunhos e entrevistas originais com Lucas para entender o processo por trás dessas e outras ideias.
Obrigado pela leitura! Que a curiosidade — e a Força — estejam com você.