
O Legado Dividido do Diretor Mais Polêmico de Star Wars
Por Portal TdW
1. Introdução – O retorno da controvérsia
Sete anos após o lançamento de Star Wars: Os Últimos Jedi (2017), o nome de Rian Johnson ainda ecoa nos cantos mais fervorosos do fandom como símbolo de ruptura. Enquanto críticos celebraram sua abordagem ousada e subversiva, uma parcela barulhenta de fãs viu no Episódio VIII uma traição aos pilares da saga. Agora, em 2025, Johnson ressurge nos holofotes com Poker Face, série elogiada e já comparada aos clássicos televisivos como Columbo. Mas o que ele tem a dizer sobre seu legado galáctico? E mais importante: ainda há espaço para ele em uma galáxia muito, muito distante?
Em entrevista recente ao The Independent, o diretor fala com franqueza, e até com certo alívio, sobre os tempos turbulentos que viveu após Os Últimos Jedi. A matéria que você lê a seguir mergulha não apenas nas palavras de Johnson, mas nos caminhos entrelaçados de sua carreira, da cultura pop e de uma das maiores divisões que Star Wars já presenciou.
2. Rian Johnson: do indie cult à direção de Star Wars
Antes de empunhar o sabre de luz no centro da franquia mais icônica da cultura geek, Rian Johnson foi moldado nas trincheiras do cinema independente. Seu primeiro longa, Brick (2005), é um noir adolescente de orçamento modesto que se tornou cult instantâneo. Depois vieram The Brothers Bloom e Looper — este último consolidando sua reputação como um contador de histórias original, capaz de lidar com temas complexos e narrativas não lineares sem perder o senso de espetáculo.
Mas o salto de Johnson ao panteão dos blockbusters se deu com sua contribuição para Breaking Bad, dirigindo episódios cruciais, incluindo o aclamado “Ozymandias”. Sua sensibilidade visual e precisão narrativa chamaram atenção da Lucasfilm, que o escalou para escrever e dirigir o segundo capítulo da nova trilogia de Star Wars.
Era uma aposta ousada: entregar a um cineasta com DNA indie o capítulo intermediário de uma trilogia bilionária, pressionada pelas expectativas de gerações de fãs. O resultado foi The Last Jedi, um filme que rompeu convenções e acendeu debates que ainda inflamam discussões nas redes sociais.
3. A tempestade de Os Últimos Jedi: o fandom em combustão
Lançado em dezembro de 2017, Star Wars: The Last Jedi foi recebido com entusiasmo pela crítica especializada. Com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes e elogios que o classificaram como “o melhor desde O Império Contra-Ataca”, tudo indicava que Rian Johnson tinha vencido o desafio. Mas a internet dizia outra coisa. A divisão foi instantânea e radical. Fãs criaram campanhas de boicote, petições para tirar o filme do cânone e hashtags como #NotMyLuke ou #RuinJohnson, uma distorção zombeteira de seu nome.
Parte da fúria veio da quebra de expectativas. O filme subverteu tropos clássicos da saga: Rey não era “filha de ninguém”; Snoke, o grande vilão misterioso, morria sem qualquer explicação; e Luke Skywalker, o herói da trilogia original, aparecia como um mestre desencantado, quase misantrópico. Para muitos, essas decisões foram uma afronta à essência de Star Wars. Para outros, foram sua salvação: uma forma de impedir que a saga morresse presa a fórmulas previsíveis.
A reação negativa foi tão virulenta que levou até a afastamentos nas redes sociais por parte do elenco, como Kelly Marie Tran (Rose Tico), alvo de racismo e misoginia. The Last Jedi se tornou o símbolo de uma guerra cultural dentro do fandom, dividindo quem via Star Wars como mito clássico imutável e quem via como narrativa viva, sujeita a transformação.
4. O Jedi errante: Luke Skywalker sob nova luz
O ponto mais controverso de Os Últimos Jedi, e o coração emocional do filme… é, sem dúvida, o retrato de Luke Skywalker. Após décadas sendo idealizado como o herói incorruptível, Luke aparece exilado, culpado por quase ter matado seu sobrinho e por fracassar na tentativa de reconstruir a Ordem Jedi. Ele se nega a treinar Rey e critica os dogmas da própria religião Jedi.
Para uma geração criada com O Retorno de Jedi, essa visão amarga foi quase uma blasfêmia. Mas Johnson defendeu sua escolha como uma forma de humanizar Luke, mostrando que até os maiores heróis podem falhar. Em entrevista ao The Independent, ele reconhece que esse tipo de ruptura causa reações fortes, mas que “deixar de provocar seria uma traição ao espírito de Star Wars como arte viva”.
Essa reinterpretação ganhou novos contornos com o tempo. Mark Hamill, inicialmente crítico, passou a defender a ousadia do roteiro. Já parte do fandom, especialmente novas gerações, encontrou em Luke um espelho mais realista da luta por esperança num mundo caótico.
5. O silêncio e a promessa da trilogia perdida
Poucas semanas antes do lançamento de The Last Jedi, a Lucasfilm anunciou com alarde que Rian Johnson desenvolveria uma nova trilogia original de Star Wars, desvinculada da saga Skywalker. A promessa era ousada: novos personagens, novos planetas, uma liberdade criativa rara dentro da franquia. Mas, com o passar dos anos, a empolgação deu lugar ao silêncio. Nenhuma atualização concreta surgiu, e a trilogia parece ter evaporado no hiperespaço do planejamento criativo da Disney.
Na entrevista ao The Independent, Johnson oferece sua visão do que aconteceu: “Knives Out!”, ele brinca. Seu mergulho no sucesso inesperado dos mistérios estrelados por Benoit Blanc tomou conta de sua agenda e foco. Mas ele é claro: “Se eu voltar ao universo de Star Wars, serei a pessoa mais feliz do mundo.” Não há ressentimento em sua fala, apenas a consciência de que a oportunidade pode voltar, e que, se voltar, será tratada com a mesma ousadia que o tornou tão divisivo.
6. De volta ao mistério: Poker Face e o renascimento televisivo
Após os fogos cruzados de Os Últimos Jedi, Johnson voltou suas atenções para a televisão. Poker Face, série criada por ele e estrelada por Natasha Lyonne, é uma carta de amor à TV procedural clássica, nos moldes de Columbo. Cada episódio é um mistério independente, com Lyonne interpretando Charlie Cale, uma andarilha com a habilidade de detectar mentiras.
Mais do que uma simples homenagem, Poker Face é uma resposta estilística ao ritmo frenético do streaming atual. Johnson aposta no prazer da narrativa episódica, com produção eficiente e escrita afiada. “Foi uma volta às minhas raízes de cinema independente”, afirma. O sucesso da série, renovada para novas temporadas e estrelada por um elenco de peso, comprova que há espaço para originalidade, até mesmo fora das galáxias distantes.
7. Knives Out e a reconstrução de uma carreira
Se The Last Jedi foi o terremoto, Knives Out foi a reconstrução. Em 2019, Rian Johnson reapareceu com um filme de mistério aparentemente modesto, mas que, em pouco tempo, se transformou em um fenômeno global. Com um elenco estelar (Daniel Craig, Ana de Armas, Chris Evans, Toni Collette, entre outros), o longa revitalizou o gênero whodunit ao misturar crítica social, humor afiado e um detetive excêntrico digno de Agatha Christie.
Mais do que um sucesso de público e crítica, Knives Out serviu como redentor para Johnson. Ele provou que a sua criatividade, por vezes vista como heresia em Star Wars, era exatamente o que o cinema precisava. O filme arrecadou mais de 300 milhões de dólares globalmente e rendeu uma das negociações mais comentadas da era do streaming: a Netflix pagou 450 milhões de dólares por duas sequências.
O diretor que fora expulso por parte do fandom agora se tornava um dos nomes mais valiosos de Hollywood.
8. A visão de futuro: o que vem por aí
Com Glass Onion (2022) e agora Wake Up Dead Man a caminho, Johnson consolida uma franquia moderna que não depende de sabres de luz ou legados míticos. Seu estilo é claro: roteiros inteligentes, subversões elegantes e personagens carismáticos que fogem ao arquétipo.
Mas ele também mantém um pé no passado. “Se eu voltar ao universo de Star Wars, serei a pessoa mais feliz do mundo”, diz na entrevista ao The Independent. Não há mágoa, apenas desejo de seguir contando histórias nesse universo que formou sua infância. Resta saber se a Lucasfilm terá coragem de abrir novamente as portas para um artista que ousou desobedecer os manuais sagrados da galáxia.
Entre Poker Face, Knives Out e acordos com a Warner Bros, Johnson agora navega com total liberdade criativa, algo cada vez mais raro na indústria. Ele representa uma geração de cineastas que não querem ser apenas “funcionários de franquias”, mas autores completos, com visão, voz e ambição.
9. Entre o amor e o ódio: o legado de Johnson em Star Wars
A polarização de Os Últimos Jedi não foi um episódio isolado. Ela escancarou a fissura geracional, estética e até ideológica no fandom de Star Wars. Enquanto uns exigem reverência aos dogmas da saga, outros pedem renovação, e Johnson, para o bem ou para o mal, representou esta última força com todo vigor.
Com o tempo, seu filme passou a ser reavaliado. Críticos o veem como uma das experiências cinematográficas mais autorais dentro da franquia. Fãs mais jovens, que cresceram sem apego à trilogia original, o defendem como uma obra de coragem. Já seus detratores continuam firmes em sua oposição, mas até esses reconhecem que Os Últimos Jedi gerou debate, paixão e, sobretudo, memória.
O maior crime de Johnson, talvez, tenha sido tratar Star Wars como arte, e não como relíquia. E por isso, paradoxalmente, ele se tornou um dos diretores mais importantes da franquia, mesmo tendo dirigido apenas um filme.
10. Conclusão – O diretor mais polêmico de uma galáxia muito, muito distante
Rian Johnson não é um diretor qualquer. É um divisor de águas. Um criador que escolheu a ousadia em vez do conforto, a reinvenção em vez da reverência cega. Com Os Últimos Jedi, ele não apenas dirigiu um filme de Star Wars, ele sacudiu seus alicerces. Para alguns, foi um desastre. Para outros, uma obra-prima corajosa.
Seja qual for sua visão, o impacto é inegável. Johnson virou símbolo de uma nova era em Hollywood: criadores que desafiam o status quo, que constroem carreiras sem medo de desagradar. Seu retorno à televisão com Poker Face e o sucesso contínuo de Knives Out provam que ele sobreviveu ao turbilhão de Star Wars com ainda mais força e prestígio.
Talvez sua trilogia galáctica ainda esteja no horizonte. Talvez não. Mas uma coisa é certa: ele nunca deixará de contar histórias que provoquem, dividam e, acima de tudo, resistam ao esquecimento.
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Boa matéria, Roberto. O lance do Mark Hamill, que depois de criticar até duramente o destino do Luke, “mudou de ideia” e elogiou o diretor e o filme em si, provavelmente estava – quando elogiando – fazendo-o por força de contrato e puxão de orelha da Disney, inclusive alguns sites de insiders informaram isso, que gente graúda chamou ele “na xinxa” e aí ele mudou o tom, e parece muito lógico isso, pois as críticas haviam sido bem contundentes, como quando ele disse que chegou a imaginar outro personagem que não o Luke para poder conseguir atuar… isso não é algo que vc deixa de pensar só porque depois vi o filme e achou legal ele ser “inovador”.